A peça “O Trânsito”- apresentada no Teatro Cacilda Becker, no Catete, na última segunda-feira - comoveu o público com lições de vida e histórias de superação de uma trupe muito especial: atores com deficiência intelectual, em sua maioria portadores de Síndrome de Down, que, a partir das leis de circulação nas ruas da cidade, falam de si, de suas experiências, do que vêem e sentem. Por eles mesmos.
O grupo é coordenado pelo psicólogo Rubens Emerick Gripp, seu trabalho começou em 1983, com o Grupo Sol.
“ - Comecei a sair quase que diariamente com os jovens na rua. Procurava ensinar coisas como atravessar a rua, como se paga uma conta no banco, como se entra num ônibus e outras coisas deste tipo”, explica ele.
“ Juntava o pessoal e conversávamos sobre o que víamos. A situação vivida na rua, a gente transformava em psicodrama, em teatro. Foi uma coisa bem natural, acabamos fundando o Grupo de Teatro Sol. Tratava-se de um teatro improvisado, até porque eles não sabem ler nem escrever.”
Quando esteve na Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência( CORDE), Teresa Costa d’Amaral, superintendente do IBDD, investiu e apoiou o projeto e o grupo fez apresentações nos Estados Unidos e na Colômbia e desenvolveu cursos de arte e educação em várias capitais do Brasil.
Até hoje o Grupo Teatro Novo precisa quebrar as barreiras do descaso, preconceito e dificuldades financeiras.
- “ As pessoas têm uma imagem preconceituosa do deficiente; é o incapaz, o doente, o coitadinho, enquanto precisamos de apoio e patrocínio ”- declara Rubens.
Ele acha importante que as empresas privadas e públicas abram os olhos para ver as pessoas com deficiência.
- “ Se instituições muito bem estruturadas, que defendem os direitos dos deficientes por múltiplas vias, estão com seus trabalhos comprometidos por falta de patrocinadores, imagina então o nosso grupo, que atua no setor cultural, tão cheio de preconceitos? “
- “ O contato entre público e intérpretes nos leva para onde a arte se despe de preconceito e fala todas as línguas. A arte sempre abre novos caminhos e ultrapassa qualquer fronteira ”- declara a artista plástica Tânia Lemos, após assistir ao espetáculo.
“ Todo mundo ri e chora com tudo isso. Eu, de alegria!”- afirma Lúcia, uma das atrizes do grupo, portadora de Síndrome de Down.
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